E sempre me apontaram como característica o saber demonstrar muito bem os meus sentimentos. Sabem lá eles... sabem lá as coisas terríveis que tive que fingir que não estava sentir. E, por ordem minha, tudo em mim mente. Excepto os meus olhos.
(...) Ah, mas se ela adivinhasse... se pudesse ouvir o olhar... mas se ela adivinhasse, se pudesse ouvir o olhar e se o olhar lhe bastasse para saber que a estão a amar... e se o olhar lhe bastasse para saber que a estão a amar.
E já agora... Mas quem sente muito cala... quem quer dizer quanto sente, mas quem sente muito cala... quem quer dizer quanto sente fica sem alma... nem fala, fica só inteiramente... Fica sem alma nem fala, fica só inteiramente!
Caralhos ma fodam se não é verdade que, neste momento, estou farto de palavras. Cansado. Exausto. Não consigo ler nem mais uma palavra que escrevi nos últimos tempos. Foda-se, que raiva! Tudo tão pensado... tudo tão solene... tudo tão profundo... tudo tão emocional... tudo tão sentido. Estou absolutamente esgotado. Não consigo mais! Foi tempo de mais. Foi tempo de mais a tentar passar para palavras o que sinto. É que é impossível, caralho! Não há mais palavras. Não há palavras que acompanhem este desenrolar de acontecimentos. Por isso mantém-te quietinho e pára de escrever e ler de uma vez. Não há palavras que façam parar o que já está em andamento. Não há! E pára de uma vez por todas de ficar viciado nas músicas que - de repente - descobres que dizem exactamente o que gostarias de dizer (que previsível!). Pára de ir atrás e reler as coisas pormenorizadamente. Quase decorar... as palavras. They mean shit! Faziam muito sentido na altura, sim.
Oh que bonito era, oh que momentos ardentes de glória e paixão. Oh que felicidade. Oh como é bom correr pelos campos verdejantes e agradecer todas as coisas lindas que existem...
aaaaaAAAAHHHH que seca, caralho! Estou farto de tudo o que é bonito. Detesto beleza (só hoje, mas detesto!)! Porque essa merda não existe aqui. Não existe nesta pocilga carregadinha de doenças. De doenças. De enfermidades. Alterações. Tosses. De dores. Sangue. Sujidade. De imundice. De crostas. Pústulas. De podridão. Vómitos. Náuseas. Nojo. De asco. E de nojo. De tudo o que é viscoso (e nojento), verde, pegajoso e que escorre... de nojo, com nojo, muito nojo. Isso sim, é muito bonito, bonito comá merda.
(Ahhh... que alívio... irra, que estava a precisar...)
Mas enfim... tudo regressa à normalidade... calmamente. E qualquer dia vais encontrar-me por aqui, às voltas, sem pensar em ti. E o que a saudade guardou vai mesmo dormir para sempre. E aviso-te que as coisas vão passar a ser diferentes...